Hey pessoas!
Eu estou tão, mas tão orgulhosa de mim. Já faz alguns anos que eu comecei a desacreditar que poderia postar aqui de forma frequente como antes. Quando criei o blog, há mais de dez anos, era tudo tão fácil e natural, sabe? Eu simplesmente não soube lidar com as mudanças que minha rotina sofreu com o passar do tempo e achei que jamais conseguiria conciliar as coisas. Felizmente, eu me reorganizei e encontrei o caminho de volta. Eu sei que ainda está muito cedo para cantar vitória, mas é impossível não vibrar a cada nova publicação que vai ao ar. Eu estou amando estar neste espaço novamente, e considero cada texto escrito uma enorme conquista. Pensando neste momento maravilhoso que estou vivendo decidi trazer hoje mais uma publicação incrível da Suma HQ, esta em especial me inspirou a não desistir de quem eu sou e daquilo que gosto, e me forçou a dar mais um passo quando tudo o que eu queria era parar. M de Monstra é a obra de estreia da ilustradora e cartunista Talia Dutton, foi inspirada no clássico Frankenstein, e trás lições de valor inestimável.
M de Monstra (M Is for Monster)
Autor (a): Talia Dutton @Agent_Talia
Publicação: Suma *Cortesia
ISBN: 9788556511669 | Skoob
Gênero: Drama / HQ
Ano: 2023
Páginas: 224
Minha avaliação: 5/5★
Depois de perder a irmã mais nova, Maura, em um trágico acidente de laboratório, a dra. Frances Ai promete trazê-la de volta à vida. Entretanto, quem reaparece nessa tentativa claramente não é Maura. A criatura, que decide se chamar M, não tem recordações da vida de Maura e só quer seguir seu próprio caminho. Na esperança de retomar a rotina que tinham juntas, Frances quer que M seja como a irmã: uma cientista dedicada com quem dividia seus planos no laboratório. Buscando recuperar suas memórias, Frances cerca M de lembranças do passado de Maura ― porém, por mais que a doutora insista, M reluta em assumir uma identidade que não é a sua.
Eu ainda não li Frankenstein mas, assim como a maior parte da população mundial, conheço a história de uma das criaturas mais populares da literatura. Sendo assim, iniciei a leitura de M de Monstra pelo menos com uma percepção básica da história. Sabia que uma vida havia sido criada por meio de uma experiência científica, mas não imaginava que havia tanto para se esmiuçar a partir disso. Óbvio que a relação criador/criatura é amplamente trabalhada nesta narrativa, mas esta é apenas a ponta do iceberg, Dutton explorou com maestria temas como, identidade, individualidade, família, luto e o peso das expectativas. No final das contas, esta é uma leitura breve, cativante e comovente. A dualidade da situação me pegou desprevenida, ao mesmo tempo em que nos sensibilizamos com os conflitos e as inseguranças de M, também entendemos e nos compadecemos com o desespero e os sentimentos de perda e culpa que dominam Frances, bem como nos solidarizamos com as dores de Maura, que partiu de forma tão repentina e precoce. Indo além das ilustrações belíssimas que lembram o século XX, Talia possui uma escrita sensível que convence sem muito esforço.
Após perder a irmã caçula em um acidente, enquanto trabalhavam juntas em um experimento científico no laboratório, Frances está desesperada para revivê-la, mas ao invés disso ela acaba criando M. O produto do trabalho árduo de Frances é uma jovem cheia de remendos e cicatrizes que desconhece absolutamente tudo a respeito de quem deveria ser. Contrariando as expectativas, M se descobre avessa aos gostos e as características de Maura, ela não sabe de onde veio ou quem ela é, e mesmo assim, M tem certeza de que não é a pessoa que Frances almeja. Diante da possibilidade de nem tudo ter saído como deveria, Frances deixa claro que não desistirá de ter a irmã de volta, não importa quantas vezes precise refazer a experiência. Então, movida pelo medo de ser desmanchada e quiçá deixar de existir, a criatura decide agir como se realmente fosse a verdadeira Maura, fingindo lembrar-se de uma vida que ela não viveu e gostar de coisas que odeia, para isso ela conta com uma ajudinha sobrenatural do espirito da falecida que se manifesta nos espelhos.
M de Monstra é tocante, uma leitura rápida permeada de abordagens interessantes que foram trabalhadas com inteligência e sensibilidade. Ser aceita e acolhida na família em que foi criada é algo que M busca com todas as suas forças, contudo, assumir a identidade de Maura é um preço alto demais a se pagar. O processo de aceitação e autodescoberta pelo qual M precisa passar deixa claro que não importa o quanto ela tente, caber nas expectativas de outrem não é uma possibilidade. A criatura que surgiu do completo nada, inicialmente não possui conceitos ou aspirações definidos, mas já é alguém que pensa, que sente e que deseja por conta própria. Em contrapartida Frances não consegue processar o enorme vazio deixado pela ausência de Maura, e luta da forma que sabe para reaver aquilo que perdeu. Em sua obra de estreia Talia Dutton nos deu um verdadeiro presente, uma história extraordinária que reflete o desenvolvimento constante pelo qual somos obrigados a passar diariamente, além disso, deixa claro a importância de definirmos bem quem nós somos para que possamos defender nossos limites.
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