A esta altura do campeonato eu meio que já aceitei que não vou conseguir postar aqui como antes, uma vez que meu ritmo de leitura caiu drasticamente. Além disso, eu ando ainda mais exigente com meus textos, as horas passadas diante do computador não rendem muitos bons frutos como antes, nada do que produzo parece bom o suficiente mesmo depois de apagá-los e reescrevê-los inúmeras vezes. Eu sempre tenho tanto a falar, sabe? Está ficando difícil sintetizar isso de forma satisfatória. Com o passar dos anos toda esta auto cobrança tem me sabotado numa intensidade cada vez maior, e isso se reflete na inconstância de postagens por aqui. Mas pode acreditar que eu estou tentando melhorar isso. Agora deixando de lado minha crise existencial e focando no que interessa, hoje estou trazendo minhas impressões a respeito de Deuses de Neon, o primeiro livro da série Dark Olympus de Katee Robert. Já adianto que esta é uma daquelas histórias que transbordam entretenimento raso, feita sob medida para fisgar e prender o leitor até a última página.
Deuses de Neon (Neon of Gods)
Coleção: Dark Olympus #01
Autor (a): Katee Robert @Katee_Robert
Publicação: Astral Cultural
ISBN: 9786555663426 | Skoob
Gênero: Romance +18
Ano: 2023
Páginas: 352
Minha avaliação: 4/5★
Perséfone, a queridinha da sociedade, planeja fugir da reluzente e ultramoderna cidade de Olimpo e recomeçar longe da política traiçoeira das Treze Casas. Mas seus planos são ameaçados quando a mãe a envolve na armadilha de um noivado com o poderoso Zeus, com quem qualquer pessoa da cidade superior daria tudo para se casar. Qualquer pessoa, menos Perséfone. Ela então foge para a proibida cidade inferior e faz um acordo com um homem que ela acreditava ser um mito, um homem que a desperta para um mundo que ela nunca soube que existia. Hades passou a vida nas sombras e não tem intenção de ingressar na luz. Mas, quando descobre que Perséfone pode oferecer uma pequena porção da vingança que ele deseja há tantos anos, ele decide ajudá-la – claro, por um preço. No entanto, cada noite ardente que eles passam juntos desperta em Hades um sentimento por Perséfone, e agora ele é capaz de entrar em guerra com todo o Olimpo para mantê-la por perto.
Eis que surge mais uma releitura moderna do mito de Hades e Pérsefone, e embora eu não seja lá uma grande fã da mitologia grega, sou uma leitora curiosa que ama romances e por isso sou uma presa fácil dessas narrativas tão comuns. E é neste ponto que eu preciso admitir que não resisto aos estereótipos que são recorrentemente atribuídos a este casal. Quando o assunto é Hades, deus do sub mundo, guardião dos mortos, o temível e implacável, logo imaginamos um homem confiante, inatingível e extremamente poderoso, correto? Pelo menos é esta a imagem que surge diante dos meus olhos. Da mesma forma, Pérsefone possui características próprias que lhe são facilmente conferidas, a deusa da primavera, de beleza descomunal, gentil e ingênua talvez? Se existe um fato incontestável, é que esse tipo de casal clichê, homem forte-mulher frágil, está caindo em desuso. E embora eu ainda goste desta combinação (desde que haja equilíbrio, é claro), tenho sido facilmente arrebatada quando me deparo com o inverso da situação. Neste caso, Deuses de Neon serve maravilhosamente bem, indo na contramão do que se espera Katee Robert nos presenteia com um Hades e uma Pérsefone completamente fora dos padrões pré-estabelecidos.
Atenção: Este livro contém cenas de violência e sexo explícito, é indicado para leitores +18.
Pérsefone tem aguardado impacientemente pelo dia em que poderá finalmente fugir do Olimpo. Contudo, há poucos meses de alcançar seus objetivos, ela se vê aprisionada em um compromisso completamente indesejado com Zeus. Para a jovem, se tornar a próxima Hera/esposa daquele que ao que tudo indica assassinou todas as suas companheiras anteriores - literalmente o barba azul do Olimpo -, é algo totalmente fora de questão. Munida por uma boa dose de desespero ela se lança numa fuga alucinante que a leva diretamente para o submundo. Lá ela conhece Hades, o homem que se tornou um mito no Olimpo, uma vez que todos o consideravam morto há tempos. Não demora muito para que Hades e Pérsefone percebam que ambos nutrem um enorme desprezo pelo deus do trovão, e que podem e desejam tirar vantagem dessa situação. É assim que uma aliança improvável se forma, o principal objetivo é destruir Zeus mas no meio do caminho, uma atração partilhada por eles será um fator extra que pode mudar o resultado desta equação.
Depois de um tempo lendo vários livros do mesmo estilo fica fácil perceber algumas referências. Neste caso, fica óbvio que a Katee não se inspirou apenas no mito de Hades e Pérsefone para compor este enredo. Se você leu Cinquenta Tons de Cinza, encontrará muitas características do Cristian Grey em nosso Hades. Um quarto de jogos, a obsessão pela segurança e alimentação de sua parceira, e o clássico passado triste e traumático são alguns exemplos óbvios disso. Outro ponto interessante da personalidade deste nosso protagonista, está intimamente ligado ao fato de que ele não é sob hipótese alguma quem deveria ser. Viver nas sombras, possibilitou a Hades sustentar sem muito esforço a frágil máscara de homem mal que ele carrega. Diferente do que se espera do deus do submundo, ele é gentil, cuidados e amoroso com todos ao seu redor, o resultado disso é um governante amado e admirado por seu povo. O completo oposto de Zeus, que por trás da fachada reluzente é perverso, ardiloso e manipulador.
Em um mundo dividido e regido por deuses que não são de fato deuses, Zeus, Hades e Posseidon, assim como os demais deuses do Olimpo, adotaram como identidade os títulos que herdaram de seus pais, e exceto por Hades, todos são idolatrados como verdadeiras celebridades, mas nem só de festa e luxo vivem a nata da sociedade do Olimpo, cada título vem com uma responsabilidade que precisa ser desempenhada por seu detentor, isso lhes confere ainda mais importância e credibilidade diante dos demais habitantes. Me deparar com meros mortais desempenhando um papel ao invés de deuses imbatíveis me surpreendeu um pouco, não cheguei a me decepcionar mas confesso que senti falta do poder propriamente dito. Quando se fala de deuses, acredito que ninguém quer saber daquele poder limitado que o dinheiro ou uma posição política proporciona, deuses são atraentes pelo seu poder sobrenatural, por sua magia e por sua imortalidade. Katee Robert, no entanto, nos apresenta um novo cenário nesta história, estes deuses aqui vivem em meio a paparazzis, são alvos de fofocas, usam e abusam da tecnologia, valorizam fama, fortuna e beleza, e no fim é como eu disse antes, são apenas celebridades.
Enquanto no Olimpo tudo é luxo e glamour, Hades precisou ainda na infância aprender a demonstrar rigidez diante de seus inimigos, o pequeno órfão foi forjado em meio a dor e a solidão, dedicou-se integralmente ao bem estar do seu povo e alimentou por muitos anos o desejo de vingar o assassinato de seus pais. O resultado disso é um homem independente, metódico e organizado, que se tornou um verdadeiro governante. Hades não deixa suas necessidades ou as de seu povo ao acaso, nos dias de paz ele se preparou incansavelmente para os prejuízos de uma guerra iminente e sempre esteve disposto a tudo para se levantar como um deus diante do seu maior inimigo. A chegada de Pérsefone trouxe novas perspectivas para Hades, a jovem encantadora e atrevida, exerce um enorme poder de atração sobre ele - quase como uma sereia -, e o faz sonhar com um futuro que jamais imaginou que desejaria. Mas Pérsefone está de passagem pelo Submundo, ela deseja ser livre longe dos holofotes e das disputas por poder, e mesmo que Hades desperte nela sentimentos inesperados, a deusa da primavera não sabe se seria capaz de abrir mão dos sonhos de uma vida para permanecer ao seu lado. Ele não pode partir e ela não pode ficar, mas juntos eles constroem uma relação explosiva da qual nenhum dos dois deseja abdicar.
Deus de Neon é viciante, a escrita da Katee prende com facilidade e o enredo por fugir um pouco do óbvio, desperta certo interesse. A relação complexa que Pérsefone compartilha com a mãe, a cumplicidade que divide com as irmãs e sua fuga para o Submundo, são o chamariz inicial, mas Hades é a grande estrela deste show. Sua presença misteriosa e todas as camadas que envolvem sua história e personalidade me deixaram vidrada, eu queria muito saber mais sobre ele e o seu mundo. E se os fãs de Corte de espinhos e rosas me permitem a comparação, o submundo de Hades me lembrou muito a Velaris do Rhys, um é tão bem cuidado e protegido quanto a outra. O casal formado por Hades e Pérsefone é puro fogo e paixão, eles se rendem muito facilmente um ao outro, e embora não se resumam a isto, não posso negar que sim, a sexualidade dos dois tem um enorme destaque. Para além das relações pessoais, eu estava ansiando com todo o meu ser pelo conflito Hades vs Zeus, durante a leitura minhas expectativas foram alimentadas com um desejo de vingança antigo, uma tensão política crescente e com uma afronta pública e pessoal que deixaria até um santo furioso, todavia no fim, o embate pelo qual eu esperei com afinco se deu de forma breve e tosca. Nem preciso dizer que foi uma grande decepção, né? De modo geral, é bem possível se entreter lendo esta história mas é só isso.
Nenhum comentário
Postar um comentário