[Resenha] Cortesã por uma noite - Lisa Kleypas

Olá cariños!
Finalmente tive meu primeiro contato com a escrita da diva do romance de época, Lisa Kleypas. Já faz muito tempo que acompanho os elogios que as obras dessa autora recebe e por isso sempre alimentei uma curiosidade imensa por suas histórias. Depois de muito adiar, resolvi aproveitar que a editora Arqueiro irá lançar a trilogia Os mistérios de Bow Street integralmente este ano e me joguei. Admito que devido as altas expectativas, tive um receio enorme de me decepcionar, mas felizmente a autora fez jus à fama que tem e me arrebatou desde a primeira página. Cortesã por uma noite, não deixa nada a desejar e entrega tudo o que há de melhor em histórias do gênero, isso somado a narrativa magistral da Kleypas compõe um combo de fácil deleite. 

Cortesã por uma noite (Someone to Watch Over Me)

Coleção: Os mistérios de Bow Street #01

Autor (a): Lisa Kleypas @lkleypas

Publicação: Arqueiro

ISBN: 9786555650921 | Skoob

Gênero: Romance

Ano: 2021

Páginas: 272

Minha avaliação: 4/5★

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Certa noite, o belo e misterioso policial Grant Morgan é chamado para investigar uma vítima de afogamento no rio Tâmisa. Quando chega lá, fica surpreso ao reconhecer Vivien Rose Duvall, um de seus grandes desafetos, a mais famosa e exclusiva cortesã dos salões londrinos. Grant fica mais surpreso ainda ao perceber que a moça está viva. Sem saber o que fazer, ele decide levá-la para casa, apesar de seu desprezo por ela. Quando Vivien acorda, porém, os dois percebem que ela não se lembra de nada. Durante a investigação, logo fica claro que a moça sofreu uma tentativa de assassinato e que sua vida ainda está correndo perigo. Enquanto tenta protegê-la, Grant se sente cada vez mais atraído por ela. E Vivien, incapaz de recuperar a memória, se entrega de corpo e alma a seu salvador.

Depois de longos anos consumindo quase que exclusivamente histórias protagonizadas pela aristocracia londrina, confesso que pegar uma obra que destoa desse cenário óbvio, me empolgou. Uma cortesã e um patrulheiro, não podemos negar que isso nos tira daquele lugar comum, onde apenas duques, condes, lordes e ladys detém todo o destaque. Aqui a nata aristocrática faz figuração e os holofotes são redirecionados. A cortesã mais bela e desejada de toda a Londres, reconhecida onde quer que vá, apreciada, invejada, cortejada... não há dúvidas de que Vivien pertence a elite de seu ramo, não precisa olhar muito para perceber que ela está no topo do seu próprio mundo. E com Grant não é diferente, no universo da Bow Street, ele é o que há de melhor, um caçador nato que desempenha suas funções como ninguém, e por isso conseguiu acumular uma grande fortuna e possui uma enorme relevância. Perceberam? Quando vamos além dos títulos, dos debuts e das enormes propriedades familiares, encontramos grandes personalidades que em sua própria realidade, talvez um pouco menos pomposa, dispõe de muito prestígio e admiração. E por ter me proporcionado uma experiência como esta, dedico a Lisa Kleypas um lugar especial na minha estante e no meu coração leitor.

Vivien têm uma longa lista de admiradores e pretendentes, uma mulher belíssima, livre e completamente despida de pudores, que sabe muito bem como encantar o sexo oposto, e assim como a maioria, Grant se viu atraído por sua beleza excepcional, contudo após uma breve aproximação, a cortesã mais cobiçada de Londres se mostrou uma casca vazia e fútil aos olhos do patrulheiro, o que o levou a rejeita-la. Com o orgulho ferido Vivien espalhou boatos pouco honrosos a respeito de Grant, despertando nele revolta e desejo de vingança. O destino não demora em proporcionar a ele a oportunidade pela qual esperou pacientemente, ao atender uma ocorrência Grant se depara com Vivien recém retirada do rio, vítima de uma clara tentativa de assassinato. Decidido a tê-la em suas mãos, ele se prepara para conciliar o papel de protetor e algoz, mas tudo sai do controle quando a cínica cortesã desperta como uma doce e vulnerável jovem desmemoriada. Seria ele capaz de se aproveitar desse momento de fragilidade para ter seu tão ansiado acerto de contas?

 

Logo de cara nos deparamos com dois mistérios que considero importantes, o primeiro e mais crucial é, quem tentou matar Vivien e porque? E o segundo, talvez não tão misterioso quanto o outro, mesmo assim julgado por mim, tão importante quanto, porque Grant despreza tanto a Cortesã mais notável de Londres? O primeiro obviamente levou um certo tempo para ser elucidado, já o segundo nos é entregue de bandeja, e sinceramente que motivo ridículo para se odiar tanto uma pessoa. Levando em conta todo o cenário, posso garantir meus caros que o que move Grant rumo a sua tão desejada vingança, não passa de ego ferido. Admito que fiquei levemente decepcionada com as motivações que fizeram o patrulheiro colocar o senso de honra no saco e o impeliu a pensar em se aproveitar de uma mulher vulnerável e confusa que estava sob sua proteção. Não posso negar que que as intenções de Grant me causaram certo desconforto.

Todavia no decorrer da história podemos vislumbrar melhor toda essa situação, e apesar de inclinado a ceder ao enorme impulso rancoroso, Grant não é um completo canalha, seu desdém pela cortesã é notável, porém a fragilidade atual da moça o faz questionar tudo o que ele acredita saber sobre ela. A bela mulher que ele abriga sob seu teto não parece conter nenhum resquício sequer da sordidez e lascívia da que ele conheceu nos salões de jogos, a Vivien ao alcance de suas mãos é como vidro, dura pois dá sinais claros de que não vai se dobrar aos seus mandos e desmandos, e ao mesmo tempo, facilmente quebrável. Tomada pela confusão ocasionada pela ausência de memória e diante da impossibilidade de se reconhecer nas descrições de si mesma que lhe são feitas, ela caminha à beira de um precipício emocional. Não costumo gostar de personagens cabeça-dura, mas além dessa característica ou somada a ela, Vivien transpira uma resistência genuína e admirável. Mesmo quando toda sua vida lhe foge do controle, ela busca dentro de si uma verdade que em meio as dúvidas, só ela parece enxergar. O envolvimento dos dois se dá de forma gradual e genuína, dia após dia, Vivien se permite confiar no estranho que a salvou e sem perceber começa a ocupar lugares inabitados da existência do solitário patrulheiro. O resultado disso, é um romance construído na adversidade cujas raízes se tornam mais firmes e profundas a cada novo desafio. O mistério, é um show a parte, conforme a investigação de Grant se desenrola, e tomamos conhecimento dos perigos que espreitam nossa heroína, é impossível não se deixar levar pela tensão e pela ansiedade. 

Embora Cortesã Por Uma Noite, tenha sido publicado originalmente há mais de vinte anos, ainda nos dias atuais a história me parece deveras singular, levando em conta os elementos comuns em narrativas do gênero, encontramos aqui alguns bons pontos fora da curva, isso por si só me deixou muito animada. Lisa sai dos já esperados salões de bailes londrinos e nos transporta para Bow Street, lugar onde conseguimos vislumbrar mais abertamente a vida de personagens "comuns", e nos apresenta uma história marcante, permeada de romance e suspense. Uma narrativa dinâmica que envolve e prende com uma facilidade surpreendente, composta não apenas de protagonistas apaixonantes como também de personagens secundários extremamente cativantes, inclusive posso citar alguns que adoraria conhecer mais a fundo. Em resumo, essa é uma trama envolvente, com personagens carismáticos e histórias de vida bem trabalhadas, um romance que se desenvolve gradualmente, e um mistério interessante, pra dizer o mínimo.