Hoje é dia de fantasia infanto juvenil, mas não estou falando de qualquer fantasia. Bruxa akata é o primeiro livro que aborda a mitologia e a cultura africana que tenho o privilégio de ler. E como toda novidade gera uma certa expectativa, não posso negar que esperei ansiosamente para ter este carinha em mãos. Inicialmente descrita como o "Harry Potter nigeriano" a obra de Nnedi Okorafor, chega repleta de hábitos e comportamentos diferenciados, ao mesmo tempo que trás nuances comuns a abordagens do gênero. Resumindo, embora este não seja o primeiro livro protagonizado por um aprendiz de magia que precisa salvar o mundo, sem sombra de dúvidas é uma das obras responsáveis por trazer novos ares a histórias do tipo. Diante disto, eu não poderia deixar de dar destaque especial ao fato desta ser uma trama que se baseia em crenças e rituais folclóricos nigerianos, que diga-se de passagem foram trabalhados com esmero. Sem mais delongas, vamos a resenha!
Bruxa akata (Akata Witch)
Coleção: Akata Witch #01
Autor (a): Nnedi Okorafor @nnedi
Publicação: Galera *Cortesia
ISBN: B07CQ5SW8Z | Skoob
Gênero: Fantasia
Ano: 2018
Páginas: 322
Minha avaliação: 4/5★
Amazon | Saraiva | Submarino
Sunny tem 12 anos e sempre viveu na fronteira entre dois mundos. Filha de nigerianos, nasceu nos Estados Unidos e é albina. Uma pária, incapaz de passar despercebida. O sol é seu inimigo. Castiga a pele e a expõe aos olhares curiosos. Parece não haver lugar onde ela se encaixe. É sob a lua que a menina se solta, jogando futebol com os irmãos. E então ela descobre algo incrível – na realidade, ela é uma pessoa-leopardo em um mundo de ovelhas. Sunny é alguém com um talento mágico latente, é uma agente livre. Uma pessoa com poderes que nasceu de pais comuns. Logo ela se torna parte de um quarteto de estudantes mágicos, pesquisando o visível e o invisível, aprendendo a alterar a realidade, sendo escolhida por um mentor e conseguindo, enfim, sua faca juju — com a qual é capaz de fazer seus feitiços. Mas isso será suficiente para que encontrem e impeçam um assassino em série que está matando crianças? Um homem perigoso com planos de abrir um portal e invocar o fim do mundo?
Primeiro quero dizer que, embora eu não seja fã de tramas protagonizadas por crianças, a agilidade narrativa de Okorafor torna tudo tão interessante que é impossível se ater aos detalhes que normalmente me incomodariam. E segundo, o enredo enriquecedor que desafia o óbvio nos impele a querer mais e mais a cada virar de páginas. Nnedi trabalha magistralmente com uma infinidade de elementos intrínsecos a cultura africana, dentre eles destaco mitologia, misticismo, nomenclaturas incomuns e seus significados, lugares, expressões, alimentos... Conforme somos inseridos e ambientados a essa realidade tão distante é possível desenvolver certa familiaridade e aos poucos abandonar a sensação de estranhamento pela qual somos dominados ao iniciar a leitura. De modo geral esta é uma história capaz de expandir horizontes, ampliar conhecimentos e despertar questionamentos, isso tudo enquanto nos aflige com o perigo a espreita e nos prende em um emaranhado de descobertas nunca antes imaginadas. Uma porta que se abre para um mundo curiosamente sombrio.
Sunny nasceu nos Estados Unidos mas recentemente mudou-se para a Nigéria - terra natal dos pais e irmãos. E tal como na América, Sunny não se encaixa entre os nigerianos, isso porque o fato dela ser albina com características afrodescendentes a torna diferente de todos ao seu redor. Mas as singularidades envolvendo essa garotinha não param por ai, aos doze anos Sunny descobre ser uma pessoa-leopardo, condição que lhe confere poderes e habilidades incomuns as ovelhas - pessoas normais. Completamente leiga no que se refere a quem é e o que pode fazer, ela ingressa em uma sociedade secreta de pessoas-leopardo onde será, ao lado de outros três amigos, uma estudante de magia. No entanto, os desafios da garota não se resumem a infinidade de descobertas com as quais passa a ser bombardeada, no meio disso tudo existe uma ameaça iminente que põe em risco a vida de todos e caberá a Sunny e seus amigos impedirem que um poderoso assassino em série siga com seu plano de invocar o fim do mundo. Com o tempo em seu desfavor, o quarteto precisará estar preparado para enfrentar uma batalha tão perigosa quanto fatal.
Que a história de Okorafor possui semelhanças bem evidentes com a famosa saga de J. K Rowling, isso é um fato, contudo, tais correspondências são meros detalhes a serem reconhecidos em meio a um universo singular que se desenrola diante dos nossos olhos. Se a cultura africana por si só soa como um desafio para aqueles que assim como eu desconhecem praticamente tudo que diz respeito ao assunto, imaginem como é ter acesso a esta temática envolta em um mundo fantástico repleto de magia e aventuras. Deparar-se com uma miríade de informações a serem absorvidas ao mesmo tempo em que é evolvido pelos inúmeros conflitos aos quais Sunny e os amigos são submetidos é tão empolgante quanto enriquecedor. O drama vivido por Sunny é apenas uma gota em meio ao oceano, a americana albina com traços nigerianos, tratada como párea pela maioria, encontra seu lugar num mundo acessível para poucos, onde os "defeitos" são recompensados com dons e a riqueza se adquire com sabedoria. Em Leopardo bate - mundo mágico das pessoas-leopardo -, a garotinha valente que um dia foi subestimada por muitos terá a chance de encontrar e explorar sua verdadeira força, enquanto descobre a existência de criaturas mágicas, poderes inimagináveis, rituais perturbadores e tudo o mais de bom e ruim que a magia tem a oferecer.
Apesar de todos elogios que fiz anteriormente existem alguns pontos dignos de nota que me incomodaram bastante durante a leitura, o desfecho é o principal deles, durante toda a história constrói-se uma expectativa gigantesca ao redor da perigosa ameaça que põe em risco a vida de todos, a ansiedade por uma batalha épica e o receio de que os quatro amigos não consigam se aperfeiçoar a tempo são alimentados constantemente só para serem frustrados com o desafio sendo superado rápida e facilmente, admito que esperava um desenvolvimento mais elaborado e por isso acabei irrevogavelmente decepcionada. Além disso, existe o fato de em sua maioria os personagens adultos serem completamente inúteis e dispensáveis a trama e as crianças estarem sempre sobrecarregadas com uma quantidade absurda de responsabilidades, isso se reflete diretamente nas ações e pensamentos dos pequenos que mais de uma vez me pareceram "adultizados". E por fim, destaco a incapacidade dos protagonistas mirins de serem afetados pela infinidade de acontecimentos bizarros que desabam constantemente sobre eles, tornando tais tragédias quase banais. Apesar de não anular tudo de bom que a obra tem a oferecer, esses pontos específicos me fizeram pensar em até que ponto essa independência precoce das crianças reflete a cultura africana e onde entra a "licença poética" de Okorafor.
Bruxa akata, é inovador em vários aspectos, mesmo tendo sido construído sob uma base já conhecida. Trata-se de uma obra que destoa do padrão euro-americano, enquanto trás uma série de mitos e costumes inerentes a cultura africana, além disso, a autora aborda o impacto que ser diferente causa na sociedade de modo geral. Sunny como albina, enfrenta uma série de preconceitos que vão além dos culturais. Outros assuntos como dislexia, racismo e machismo também são trabalhados mesmo que superficialmente. Com uma narrativa direta Okorafor, nos apresenta um universo que inicialmente causa estranhamento mas conforme se desenvolve se mostra fascinante. Personagens bem construídos, detentores de personalidades marcantes, que demonstram coragem incomum e são responsáveis por feitos além do esperado. Uma mistura de ficção, realidade, fantasia e aventura que resulta em um composto atraente e digno dos elogios que tem recebido.
á tinha visto o livr, mas não sabia que era infanto juvenil, assim como nem sonhava que ele abordava a cultura africana, adorei! O fato da história ter uma pegada J. K Rowling só me agrada, mas o desfecho que te decepcionou pode ser um problema para mim, assim como a banalidade em relação as tragédias, mas acredito que só lendo para saber e conhecer essa inovação da autora.
ResponderExcluirAbraços.
https://acabinedeleitura.blogspot.com
Olá!
ResponderExcluirEu vi sobre esse livro, é capa é bem bonita, mas o enredo apesar de trazer vários elementos culturais interessantes e personagens mais jovens, não me sinto atraída a embarcar pelo gênero. Sempre fico com a impressão de uma narrativa arrastada demais.
Mesmo assim gostei de conferir suas considerações.
Beijos!
Camila de Moraes
Oi!
ResponderExcluirNão conhecia o livro, a trama parece interessante, gosto muito de fantasia e me deixou curiosa como vai ser o final dessa história, vou anotar sua dica apesar de ter te incomodado sobre alguns aspectos estou ansiosa para ler e dar minha opinião, parabéns pela resenha e pela sua sinceridade, bjs!
Olá! Jura que você achou ele tão parecido assim com HP? Li tantas resenhas boas dele, falando sobre como a autora explorou bem esse lance da magia com as crianças e o ambiente e a cultura africanos.. Enfim, eu quero muito ler o livro justamente por essa questão da África, e desses costumes que são acrescentados á trama. Mas vou menos empolgada, porque meio que agora vou ficar tentando identificar essa semelhança que você disse existir. Obrigada pela resenha!
ResponderExcluirBjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥
Oii Delmara, tudo bem? Parabéns pela ótima resenha, completa e detalhada. Ultimamente tenho lido muitos comentários sobre ele, mas nenhum me despertou tanto a curiosidade para ler também... agora fiquei mais curiosa. Fiquei curiosa também com os pontos não tão positivos que você apontou, sobre até que ponto ele reflete a cultura africana, na "adultização" das crianças, ou vai a licença poética da autora. Espero ter a oportunidade de ler em um futuro próximo...
ResponderExcluirBeijos!
Eu achei esse mix de temas bem ambicioso para o enredo, mas em contrapartida, é o que mais me chama a atenção para essa leitura. Nunca li nenhum livro com personagem albina e já quero saber como a autora desenvolveu isso.
ResponderExcluirBeijos
Oiee Delmara ^^
ResponderExcluirEu também não gosto muito de histórias protagonizadas por crianças e adolescentes, e além de odiar quando comparam algum livro com outro (toda distopia agora é o novo Jogos Vorazes ou A rainha vermelha), eu também não gostei de Harry Potter (dos livros). Ainda assim, sou muito curiosa no que se diz respeito à outras culturas, e como eu li pouquíssimas coisas sobre a cultura africana, fiquei mega curiosa aqui kkkkk' Uma pena que nem tudo tenha sido rosas, sempre tem algo que nos incomoda, né?
MilkMilks ♥
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirAtualmente estou gostando muito de conferir histórias que envolvam a cultura nigeriana! Não conheço muito mas estou achando fascinante tudo o que venho descobrindo sobre mitologia, crenças e costumes. Apesar do desfecho ter se resolvido fácil demais, ainda fiquei com muita vontade de ler. No que se refere a essa questão da "adultização" dos personagens mirins, acho que é uma característica de alguns livros nigerianos, pois já li outros e isso também ocorre, devido as experiências de vida pelas quais passam.
Enfim! Adorei a resenha e a indicação. Já anotei e espero ler em breve ♥
Beijos
Oi Delmara tudo bem? Sempre acho sensacional os livros que abordam outras culturas diferentes. Nunca li nada da cultura africana e fiquei super curiosa para ler esse livro. As vzs me incomoda livros com crianças como protagonista, apesar que Harry Potter me encantou do início ao fim. Acho que gostei dessa série pois vc via o personagem crescer com o tempo.
ResponderExcluirFiquei bem curiosa para ler esse livro. Sua resenha ficou ótima!. Beijos
oi tudo bem?
ResponderExcluirnão conhecia o livro, porém já amei de cara, essa capa e esse enredo já me pegou, irei procurar mais sobre ele. acho necessário ter personagens assim que mostrem representatividade.
abraços.